A Primeira Noite
Com o revólver apontado para sua vítima o garoto pediu o dinheiro.
Havia apenas uma coisa que o agonizava. Apenas uma. Pouco para quem é inexperiente na arte do assalto.
- Passa a grana, sem gracinha!
- Muita calma!! Muita calma!! – respondia a vítima, assustado. Depois acrescentou que era um trabalhador, que tinha filho, tinha família, e concluiu: - Muita calma rapaz!!!
- Passa a grana ou vai levar chumbo!!!
E aqui temos o problema: não havia chumbo.
O dinheiro não deu pra comprar munição, apenas a arma!
Havia vendido a bicicleta, fruto de um furto praticado há uns dois anos atrás; dois tênis, fruto do trabalho numa indústria de derivados de couro; e um playstation, que não era seu, pegara emprestado de um amigo ´das-antiga´, desde a escola, ´sangue-bom´.
Precisava da arma e o Mão-Na-Roda não quis dar um desconto nela para que levasse também a munição:
- Não, `dexaqueto´! – respondeu para o Mão-Na-Roda que guardou a caixa com as balas; ele que não dava a mínima se o garoto tinha ou não tinha o dinheiro ou o que faria com aquela arma.
Com a ferramenta de trabalho em punho, saiu logo, sem espera; ´trampo´ noturno; seria um trabalhador da noite. Tirar dinheiro dos que têm e dos que não tem: não faz diferença para bandido, na noite, no breu.
- Anda, passa a ‘grana’, maluco!!! – gritou e logo pensou que estava na hora de tomar uma posição, pois a vítima logo perceberia que ele estava sem munição, ou era apenas um iniciado naquele tipo de ação. Então puxou o cão e o tambor girou, foi quando gritou com mais hostilidade.
- Tudo bem, tudo bem... – e a vítima entregou a carteira para o assaltante. Havia três reais, dos quais se apoderou o assaltante, que depois jogou a carteira no chão.
-´Vaza´, ´vaza´, antes que eu...
O outro pegou a carteira e sumiu.
“Não foi tão difícil assim”, pensou e saiu à cata de uma nova vítima, e de experiência.
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